Ciclo da Vida Judaica

Ciclo da vida judaica

O judaísmo é marcado por uma série de ritos que pontuam a trajetória de todo judeu ou judia. É o ciclo da vida, que começa com o nascimento da criança e sua inserção no judaísmo, através do Brit Milá para o menino, e da Simchat Bat, para a menina, passando pela confirmação da adesão religiosa no Bar ou Bat Mitsvá, culminando no casamento na Chupá. Este ciclo se repete até o fim da vida; e para este momento, há uma série de cuidados e preceitos a serem seguidos tanto com relação aos preparativos para um enterro adequado quanto ao acompanhamento dos enlutados através das etapas de luto.


Brit Milá:

O Brit Milá, pacto da circuncisão, é o sinal sagrado da Aliança entre Deus e o povo judeu. Ele marca o ingresso do menino na religião judaica.
O Brit Milá foi praticado pela primeira vez por Avraham em si próprio (com 99 anos), em seu filho Ishmael (com 13 anos) e em todos os homens de sua casa – depois que Deus lhe ordenara: “Guardarás a Minha aliança, tu e tua posteridade nas gerações futuras... Todo homem entre vós será circuncidado no oitavo dia do seu nascimento”. (Gênesis 17:9-12). Avraham circuncidou seu filho Itschak, quando este tinha oito dias de vida.
O Brit Milá é realizado no oitavo dia do nascimento, mesmo que este caia no Shabat ou no Iom Kipur. Só se adia o Brit Milá em caso de bebês prematuros, com pouco peso ou doentes, cujo estado de saúde não permita a circuncisão naquele dia.
Esse ritual é executado dentro das mais perfeitas normas de higiene por uma pessoa especializada, o mohel, que deve ser um judeu praticante. O mohel é uma pessoa treinada tanto nos procedimentos médicos quanto no ritual judaico. Embora à mulher seja legalmente permitido ser mohelet, nas comunidades ortodoxas tradicionalmente só homens podem ser mohalim. Atualmente, o movimento reformista vem treinando homens e mulheres para atuarem dentro do rito, costumes e tradições do Brit Milá.
Além da criança e do mohel, participam da cerimônia o pai, que recita uma bênção especial, e o sandik (padrinho – deriva do grego syndikos – protetor), que segura a criança no colo durante a circuncisão. Nesta ocasião, dá-se ao menino o nome hebraico.
Durante a cerimônia são recitadas algumas bênçãos que reforçam a Aliança de Deus com Avraham e seus sucessores. Esta cerimônia, como quase todas as cerimônias judaicas, é seguida de uma Seudat Mitsvá, ou seja, uma refeição em celebração a uma Mitsvá.
O menino nascido de mãe não-judia não pode celebrar o Brit Milá. O que é feito, caso os pais queiram, é a circuncisão realizada por médico ou mohel, sem o cerimonial tradicional. Quando o menino estiver mais velho ele optará por seguir a tradição ou não. Caso a decisão seja positiva, ele passará por um ritual de conversão de acordo com as normas judaicas.

Simchat Bat:
A Halachá, lei judaica, não estipula nenhuma regra sobre a maneira de dar o nome à criança. É costume, entretanto, o pai comparecer à sinagoga no primeiro Shabat após o nascimento de uma filha. Nessa ocasião, ele é chamado à Torá e declara o nome hebraico que será dado à menina. A cerimônia é celebrada alegremente perante toda a congregação e, geralmente, é seguida de um kidush festivo.
Um costume recente, que vem se tornando cada vez mais popular entre os judeus liberais, é a cerimônia de Simchat Bat (Alegria por uma Filha), também chamada de Brit Hachaim (Pacto da Vida), uma celebração que se realiza na Sinagoga ou em casa, alguns dias ou semanas após o nascimento de uma menina. Uma vez que não se trata de uma comemoração haláchica, o ritual não segue normas pré-estabelecidas, podendo ser elaborado com criatividade e sensibilidade pelos próprios pais e pelo rabino da família, baseado nos moldes da cerimônia de circuncisão (Brit Milá).

Pidion Haben:
Pidion Haben, ou Redenção do Primogênito, é a cerimônia que expressa gratidão a Deus por ter dado ao casal o primeiro filho.
De acordo com a referência bíblica, todo primogênito do ventre, homem ou animal, é considerado como pertencente a Deus (Êxodo 13:11-16); os humanos devem ser redimidos e os animais puros sacrificados (Levítico 27:26). A tradição tem origem no Êxodo do Egito, pois enquanto os primogênitos egípcios foram mortos, os hebreus foram poupados. A partir de então Deus exigiu que todos os primogênitos hebreus fossem consagrados a Ele, isto é, ao serviço do Templo. Mais tarde, quando o sacerdócio foi oferecido a Aharon e seus descendentes (os Cohanim), e a função de assistentes dos sacerdotes foi atribuída aos Levitas, Deus instituiu a redenção dos outros primogênitos (os israelitas) como um meio simbólico de livrá-los da obrigação de servirem no Templo. Se o pai é Cohen ou Levi, o filho adquire por hereditariedade o respectivo título bem como as funções inerentes a ele. Assim sendo, ele não precisa ser redimido da obrigação de servir no Templo.
A Torá define como filho primogênito “aquele que abre o útero de sua mãe.” (Êxodo 13:2). Portanto, somente o primeiro filho precisa ser redimido. Se, por acaso, a mãe tiver sofrido um aborto numa gravidez anterior, o primeiro filho já não é considerado o primogênito, uma vez que outro feto “abriu o útero “ antes dele.
A cerimônia de Pidion Haben acontece no 31º dia de vida do bebê primogênito, nascido de mãe judia. Caso o 31º dia caia num Shabat ou Chag, a cerimônia é adiada para o dia seguinte.
A redenção consiste no pagamento de 5 moedas de prata (shekalim) ao Cohen. Durante a cerimônia, o pai traz o bebê para o Cohen, recita as brachot e paga o resgate (o Cohen normalmente dedica este dinheiro à caridade).
O movimento ortodoxo e o movimento conservador mantêm esta tradição. Já o movimento reformista, por não reconhecer o status de Cohen, Levi e Israel, abandonou este ritual, havendo apenas algumas famílias que ainda o observam. Atualmente, há também judeus que celebram o Pidion Habat (redenção da primogênita), quando o primeiro bebê é uma mulher.

Ben / Bat Torá:
Este é o nome que podemos dar a um menino ou menina quando começa a estudar a nossa tradição e é introduzido(a) ao conhecimento da Torá.
Embora não haja uma cerimônia incorporada à nossa tradição, há descrições provenientes da Europa Oriental que nos contam sobre o primeiro dia de aula num Cheder (escola judaica), um século atrás. A cerimônia seria realizada por volta dos 6, 7 anos quando os pais trariam seu filho enrolado num Talit e o apresentariam ao professor, que lhe daria as boas-vindas. Após a aula, o aluno teria o direito de ser o primeiro a se servir de um lanche com bolo, nozes, passas e outros. Conta-se ainda que em algumas localidades as mães preparavam pães de mel ou biscoitos em forma de letras do alfabeto hebraico. Esse costume simbolizava a doçura que a Torá brinda aos seus conhecedores e tinha como objetivo associar seu aprendizado a algo agradável.
É importante salientar que a permissão para a mulher estudar a Torá é relativamente recente. Data do século XIX entre os liberais e de apenas algumas décadas entre os ortodoxos.

Bar / Bat Mitsvá:

Inicialmente é importante ressaltar que o menino ou a menina não fazem Bar/Bat Mitsvá e sim se tornam Bar/Bat Mitsvá. Assim, a partir do momento em que o menino completa 13 anos (segundo o calendário judaico) e a menina completa 12 anos (segundo calendário judaico), eles se tornam respectivamente Bar e Bat Mitsvá, que significam Filho ou Filha do Mandamento. Bar e Bat Mitsvá marcam a passagem da infância para a idade adulta, em termos religiosos. É quando os jovens passam a ser responsáveis por sua conduta moral e devoção. Passam a contar no minian (quorum de 10 pessoas exigido para realização de qualquer ato religioso de caráter público), como um dos três judeus necessários para a recitação do Birkat Hamazon (bênção após as refeições) e a ser responsáveis pelo cumprimento das Mitsvot, entre elas, usar Talit, colocar Tefilin diariamente e jejuar em Iom Kipur.
Coletivamente, cada jovem que se torna Bar/Bat Mitsvá representa uma reafirmação dos valores e tradições judaicas, sobre os quais repousa o futuro do nosso povo.
Este status legal e religioso é reconhecido publicamente através da cerimônia de Bar Mitsvá, que é realizada geralmente, (mas não necessariamente) no primeiro Shabat após o 13º aniversário do menino pelo calendário judaico. Nesta ocasião, o jovem é chamado pela primeira vez para ler um trecho da Torá e/ou recitar as bênçãos antes e depois de sua leitura.
Durante os meses que antecedem essa data importante, o jovem estuda as noções fundamentais da história e das tradições judaicas, as orações, costumes do povo, e os princípios que regem a fé judaica. Aprende também a colocar Tefilin (meninos) e o trecho semanal da Torá relativo ao dia da cerimônia.
A celebração do Bar Mitsvá, para os meninos, inicia-se com a colocação dos Tefilin em cerimônia pública na sinagoga. No sábado seguinte, o Bar/Bat Mitsvá é chamado/a pela primeira vez para a leitura de um trecho da Torá (Parashá) e/ou dos Neviim (Haftará).
A leitura da Haftará tem origem na época do Rei Antíoco (século II A.E.C), que proibiu a leitura da Torá mas não do livro dos profetas, que eram considerados seculares. O povo judeu começou a estudar o livro de Neviim ao invés da Torá. Mesmo depois da proibição ter sido extinta, a leitura deste livro foi mantida.
Não existe nenhuma referência bíblica associando a idade de treze anos à maturidade religiosa. Entretanto, o Talmud menciona que “até o décimo terceiro ano, o pai tem responsabilidade pelo seu filho”. Diz ainda: “se tem 12 anos e 1 dia, os votos por ela proferidos têm valor, se tem 13 anos e 1 dia, os votos por ele proferidos têm valor” (Nedarim 5:6). Além disso, a Ética dos Pais (Pirkei Avot) afirma que aos 13 anos o jovem é responsável pelo cumprimento dos mandamentos da fé judaica (“Aos cinco anos, à Torá; aos dez, à mishná; e aos treze, aos mandamentos.” – Avot 5, 26).
O costume do Bar Mitsvá da forma como nós conhecemos hoje é relativamente moderno. Nem a Bíblia nem o Talmud mencionam tal cerimônia. A primeira referência escrita sobre a sua celebração encontra-se no Shulchan Aruch, código religioso redigido no século XVI.
Esta cerimônia foi instituída na Idade Média, e representa o reconhecimento público, uma oportunidade que o jovem tem de cumprir publicamente uma Mitsvá. Ela pode ser realizada em qualquer dia em que haja leitura da Torá, ou seja, às segundas-feiras, às quintas-feiras, aos sábados pela manhã e pela tarde, em Rosh Chodesh e em festas.
Já a cerimônia de Bat Mitsvá é bem mais recente e é celebrada pelas comunidades reformistas e conservadoras desde o início do século XX. Em 1982 ela foi oficialmente declarada legítima e válida pelo rabino Chefe Sefaradi de Israel, Ovadia Yossef.
A primeira cerimônia de Bat Mitsvá foi realizada em1922, nos Estados Unidos, por Judith Kaplan, filha do Rabino Mordechai Kaplan.
O Bat Mitsvá corresponde à maturidade religiosa alcançada pela menina judia aos 12 anos. A preparação é semelhante à dos meninos. No judaísmo ortodoxo, as mulheres são dispensadas dos estudos religiosos e estão sujeitas a um número bem menor de mandamentos que os homens.
Ao tornar-se Bat Mitsvá, a menina ingressa na comunidade judaica adulta, assumindo formalmente sua responsabilidade religiosa perante seu povo.
O costume de dar festa após o/a menino(a) tornar-se Bar/Bat Mitsvá surgiu na Idade Média, quando se fazia uma Seudat Mitsvá (refeição festiva comemorando o cumprimento de um preceito sagrado). Naquela época, com receio de que o luxo excessivo pudesse deturpar o verdadeiro sentido da festa, algumas autoridades estabeleceram regras limitando o número de convidados e exigindo certo grau de sobriedade. Atualmente, a tradição de celebrar o Bar/Bat Mitsvá está se convertendo em festas com muito luxo e ostentação, o que não está de acordo com o espírito da lei judaica. Em diversos locais do mundo, a família doa o correspondente a 10% dos gastos com a festa para alguma instituição beneficente.

Noivado - Tenaim (condições):
A cerimônia de noivado na religião judaica chama-se tenaim, que significa condições. É uma promessa mútua, um contrato para um futuro casamento, feito pelos próprios noivos ou pelos seus pais.
Originalmente, a cerimônia de tenaim, não tinha uma conotação legal. Ela adquiriu um caráter mais formal somente nos tempos talmúdicos, quando foi elaborado um documento especial, shtar tenaim, contendo todos os detalhes do acordo de noivado. O documento era assinado pelos noivos e por seus responsáveis, e o contrato só podia ser dissolvido perante uma corte rabínica. Tal era a importância atribuída pelos rabinos ao noivado que eles consideravam a noiva uma semi-esposa e o noivo um semi-esposo. A infidelidade durante o noivado era equivalente ao adultério no casamento.
Hoje em dia, a cerimônia de tenaim é celebrada principalmente entre os judeus sefaradim. Um prato de porcelana é quebrado, pela mesma razão que se quebra um copo de vidro na cerimônia de casamento (ver a seguir), e uma multa é estipulada para o caso de rompimento do contrato. Para confirmar simbolicamente o acordo, os noivos e as testemunhas seguram as pontas de um lenço, um ritual que se chama em hebraico kinian sudor.

Aufrif:
Trata-se de uma celebração realizada na sinagoga para homenagear o noivo no Shabat anterior ao seu casamento. De acordo com o Talmud, o costume data dos tempos do Rei Shlomó, porém naquela época o tributo era prestado do lado de fora do Templo.
A palavra “aufrif” significa em alemão “chamada”. No sábado de manhã, perante toda a congregação reunida, o noivo recebe a honra de uma aliá, isto é, ele é chamado para subir ao altar e recitar as bênçãos de antes e depois da leitura da Torá.
Em algumas comunidades, especialmente as de origem oriental, costuma-se jogar nozes, passas e balas sobre o noivo quando ele conclui a bênção final, como prenúncio de doçura e prosperidade no casamento.
Nas sinagogas liberais, a noiva sobe à Torá junto com o noivo e ambos celebram juntos este momento.

Casamento:
A família representa o núcleo da sociedade judaica.
Deus, ao criar o homem (Adam), percebeu a necessidade deste ter uma pessoa companheira fiel que o acompanhasse durante sua vida. E disse: “Não é bom que o homem esteja só: far-lhe-ei uma companheira frente a ele.” (Gêneses 2:18). E Deus criou Chavá. A união e o amor entre os cônjuges são descritos muitas vezes na Torá, inclusive nas biografias de nossos patriarcas.
O casamento judaico é realizado sob a Chupá, que é uma espécie de tenda. Ela nos lembra o antigo modo de vida do povo de Israel, que vivia em tendas.
Existem alguns costumes associados à Chupá: ela pode estar montada na Bimá, pode ser o próprio Talit do noivo, um pano em que os amigos e parentes do casal escrevem felicitações, ou ainda, no momento do casamento ela pode vir carregada pelos quatro melhores amigos do casal.
Durante a cerimônia de casamento, a noiva fica à direita do noivo. Essa posição é baseada em uma interpretação de um versículo dos Salmos: “Entre tuas amadas estão as filhas do rei; à tua direita uma rainha, enfeitada com o ouro de Ofir”. Na tradição judaica, a noiva é uma rainha e o noivo é um rei.
O véu usado pela noiva durante a cerimônia de casamento tem origem na história de Rivka, que cobriu-se com um véu quando viu se aproximar seu futuro marido, Itschak. (Gênesis 24:65). Alguns dizem que a finalidade de cobrir o rosto é impedir que outros homens lancem um olhar libidinoso à noiva no dia do seu casamento. O véu seria então uma demonstração pública de que a noiva pertence exclusivamente ao seu futuro esposo. Uma outra interpretação afirma que, assim como se cobre os olhos com a mão quando se recita o “Shemá” (a declaração de fé em Deus), também a noiva cobre os olhos com o véu para demonstrar sua confiança “cega” no futuro marido. Em algumas comunidades chassídicas e orientais, em que não existe o costume do véu, a noiva é conduzida ao altar com os olhos vendados, seguindo este mesmo simbolismo.
O noivo (Chatan) e a noiva (Kalá) ficam sob a Chupá e o rabino realiza a cerimônia. A primeira parte do casamento - Kidushim – inicia-se com uma bênção sobre o vinho, agradecendo e louvando a Deus que proporcionou a santidade do matrimônio. O noivo bebe deste vinho e depois dá de beber à noiva. Logo em seguida, há a entrega da aliança pelo noivo e a sua aceitação pela noiva, o que simboliza a consolidação do vínculo entre o casal. É neste momento que o Chatan recita a frase: “Harei at mekudeshet li betabaat zo kedat Moshé veIsrael”. (Desta forma você me é consagrada por esta aliança, de acordo com a fé de Moisés e Israel). Há, então, a troca das alianças quando o anel é colocado no dedo indicador da mão direita da noiva para que todos possam ver claramente este ato. A noiva, costumeiramente, fala um trecho do Cântico dos Cânticos “Ani ledodi vedodi li”. (Eu pertenço ao meu amado e ele me pertence).
A segunda parte da cerimônia consiste na leitura da Ketubá, o contrato matrimonial assinado pelo casal, que ressalta o compromisso mútuo entre marido e mulher. Como no casamento é lavrado um contrato, são necessárias duas testemunhas judias que o assinam junto com o noivo.
Em seguida, há o Nissuim (matrimônio) quando são lidas as Sheva Brachot. Estas sete bênçãos sobre o vinho enaltecem a Deus e agradecem a Ele por Suas obras. Abençoa-se o casal para que juntos tenham muitas alegrias e que o amor entre eles seja tão indestrutível quanto o de Deus por Israel. Após as bênçãos, os noivos, já casados, novamente bebem o vinho, e o noivo quebra um copo de vidro para lembrar a destruição dos dois Templos de Jerusalém.
Em alguns casamentos, a noiva dá três ou sete voltas ao redor do noivo durante a cerimônia. Essa prática baseia-se num versículo messiânico do Livro de Jeremias. “A esposa cercará o esposo”. Há duas interpretações para este versículo. Uma é que a esposa o cercará de cuidados. A segunda é que a vida da esposa girará em torno do seu marido. Por considerarem essas interpretações um tanto machistas, muitas sinagogas liberais aboliram o costume. Quanto ao número de voltas: sete é o número de dias da semana, é também o número de pessoas que são chamadas para ler da Torá no Shabat, e é o número de voltas que se dá carregando os rolos da Lei em Simchat Torá. Além disso, a Bíblia repete sete vezes a frase: “Quando um homem desposar uma mulher...”. O número três, por sua vez, representa as três repetições contidas na promessa de Deus à Sua “noiva”, Israel: “Desposar-te-ei para sempre; desposar-te-ei conforme a justiça e o direito, com compaixão e ternura; desposar-te-ei com fidelidade”. (Oséias 2: 21-22).
No final, o rabino abençoa os noivos com a bênção dos Cohanim. Halachicamente, não é preciso a presença de rabino para a realização do casamento. Basta haver 10 testemunhas, o noivo proferir a frase “Harei at mekudeshet ...”, colocar o anel no indicador direito da noiva ou até mesmo dar-lhe uma moeda, e está formalizada a união.
Vale lembrar que não é permitida a realização de cerimônias de casamento no Shabat, Festas, 17 de Tamuz a 9 de Av (as Três Semanas), durante os primeiros 32 dias da Contagem do Omer e nos dias de jejum.

*( Em caso de Guet
)

Luto (avelut):
Quando ocorre um falecimento, o sepultamento se realiza o mais breve possível, de preferência no mesmo dia. Esta regra deriva de uma injunção bíblica, no caso de um criminoso ser condenado à pena de morte e enforcado: “seu cadáver não poderá permanecer ali durante a noite, mas tu o sepultarás no mesmo dia”. (Deuteronômio 21:23).
As tradições relativas aos cuidados que devem ser tomados para com o falecido são:
- Shemirá - o corpo não pode ser deixado sozinho desde o momento da morte até o momento do enterro;
- Tahará - o corpo é lavado e purificado; e
- Tachrichim - uma mortalha branca, que simboliza pureza e humildade, envolve o corpo para o enterro.
É costume enterrar a pessoa com o seu talit, mas remove-se o tsitsit pois o falecido não poderá mais observar as mitsvot.
Para cuidar destas tradições existe a instituição Chevra Kadisha, que se ocupa de todo o ritual do enterro.
Durante o velório costuma-se cobrir o cadáver e manter uma vela acesa à sua cabeceira. Esta vela deverá ser mantida acesa durante todo o período da shivá (7 dias) bem como nos Iartzeit (aniversário de falecimento). O objetivo é que a chama simbolize a alma do ente que partiu, pois ela se dirige para o alto e assim estamos ajudando a ascensão da alma aos céus.
O ritual da Kriá (o rasgo na roupa dos enlutados) é um sinal tradicional de luto, desde os tempos bíblicos, tendo sido executado por Iaakov (em relação a Iossef) e por David (em relação ao rei Shaul).
O Kadish deve ser recitado pelos filhos, irmãos e cônjuge, em presença de um minian. Quando não há filhos, o parente mais próximo deve fazê-lo. O Kadish é uma oração de fé na qual não há referências à morte. Ela simboliza, na hora da dor e da separação, a fé em Deus.
Quando se visita um ente querido no cemitério, existe o costume de se colocar uma pedrinha no túmulo, ato simbólico para marcar nossa presença no local, como se estivéssemos dizendo ao morto “você não foi esquecido”. Há também a interpretação de que as pedras simbolizam a analogia entre a destruição do Templo e a vida que partiu.
Os judeus lavam as mãos ao saírem do cemitério, porque a água é o símbolo da vida, reafirmando assim nossa crença de que a vida é mais forte do que a morte.
Após derramar água sobre as mãos, deixamos que elas se sequem naturalmente, sem usar uma toalha. Simbolicamente, demonstramos assim nosso desejo de jamais romper nossos laços com o falecido e, pelo contrário, conservá-lo em nossa memória para todo o sempre.
Os Cohanim não podem ir a um enterro, a menos que seja parente próximo (mãe, filhos, irmãos e esposa). Isto porque a família sacerdotal era responsável pelas atividades religiosas no Tabernáculo no deserto e no Templo de Jerusalém, e tinha a obrigação de permanecer em estado de pureza. Como o contato com os mortos deixa as pessoas em estado de impureza, os Cohanim foram proibidos de ficar muito perto de um cadáver.
Nos enterros judaicos não se utiliza caixões ornamentados, nem se envia flores, pois os judeus frisam a igualdade de todos os seres humanos em sua morada final. Na morte, rico e pobre se encontram, pois ambos foram criados por Deus à Sua imagem e semelhança. Por esta razão, realiza-se o enterro sem ostentação, sem enfeites, sem flores, ressaltando uma das normas básicas do judaísmo que é a justiça social.
Mais ainda, nossos rabinos tinham receio da tendência humana de cultuar os mortos. É interessante notar que o local do sepultamento de Moisés é desconhecido, para evitar que cometamos o pecado da idolatria. Flores eram freqüentemente usadas pelos pagãos em seus rituais fúnebres. Nós, como judeus, não cultuamos os mortos. Pelo contrário: diante da morte, reafirmamos a vida. E traduzimos a memória em ação.
Há uma série de costumes judaicos relativos à recordação dos entes queridos:
- Shivá - uma semana de luto fechado é observada pelos parentes mais próximos, quando costumam sentar no chão e ficar sem sapatos. Durante o Shabat o luto é suspenso;
- Shloshim – luto intermediário. São os trinta dias posteriores à morte (incluída a shivá);
- Iartzeit - que é o aniversário da morte de acordo com o calendário judaico; e
- Izkor – serviço especial de recordação realizado na sinagoga quatro vezes ao ano (Iom Kipur, Shemini Atseret, último dia de Pessach e o 2º de Shavuot) em que são pronunciadas orações de recordação.
Atualmente, por ocasião do Iartzeit, é costume fazer uma visita ao cemitério, ir a sinagoga para dizer o Kadish e oferecer donativo a uma ou mais instituições em homenagem ao entre querido.
O costume de cobrir os espelhos é relativamente moderno (data da Idade Média) e pode ser explicado de várias maneiras. Primeiro, durante a primeira semana são realizados serviços religiosos na casa dos enlutados e a lei judaica proíbe reza diante de um espelho. Outra razão é que o espelho está relacionado com a vaidade pessoal e esta contraria o espírito do luto...
Durante a shivá, que é o período mais doloroso, deve-se evitar que o enlutado tenha que tomar decisões. Além disso, deve-se consolar o enlutado e ser sensível aos seus sentimentos. O objetivo da shivá é permitir que a experiência e o sentimento dos enlutados sejam compartilhados com os amigos.
O cuidado com o morto (chessed shel hamet) é uma das mitsvot mais altruístas que alguém pode cumprir, pois é algo que nunca vai poder ser retribuído. Sua importância é bem definida, principalmente durante períodos de guerra, pragas ou outras endemias que acarretam muitas mortes. É responsabilidade de cada judeu ver se ao corpo está sendo dado um tratamento digno para um enterro decente.


* Em caso de Guet:
Guet é a palavra em hebraico para o documento de divórcio.
A lei judaica não proíbe o divórcio. Ela reconhece que pior que uma separação, é uma vida de desamor familiar. Um lar que permanece fisicamente intacto, mas que já desmoronou espiritualmente, é muito mais prejudicial para os pais e para as crianças do que um divórcio.
Uma vez que ambos cônjuges expressem o desejo de uma separação definitiva, o divórcio judaico é então formalizado sob orientação rabínica. Um casamento consagrado pela Lei de Moisés e Israel só pode ser dissolvido de acordo com a Lei.
A cerimônia do guet processa-se na presença de duas testemunhas e de um escriba (sofer) que prepara, a mão, o documento de divórcio, o qual é lido e arquivado pelo rabino ou pelo Beit Din
(tribunal composto por três rabinos). Marido e mulher recebem uma carta atestando oficialmente a consumação do divórcio e dando-lhes o direito de se casarem novamente. A esposa só pode contrair novas núpcias após o prazo de 92 dias, evitando assim qualquer dúvida sobre a paternidade, caso ela venha a conceber um filho do segundo marido.