Shabat


O conceito de Shabat é um dos mais importantes do Judaísmo. Em hebraico, Shabat significa repouso, descanso, que todo trabalho cesse. É, antes de tudo, uma pausa para a elevação do espírito.
É o dia da semana em que se costuma usar roupas festivas, reunir a família e fazer uma refeição especial.
Existem várias passagens na Torá que se referem ao Shabat.
Em Gênesis 2:1-3, está escrito “ ...E no sétimo dia Deus terminou todo o Seu trabalho. E Deus abençoou o sétimo dia e este foi declarado sagrado pois, Deus, nele terminou todo o trabalho da criação”.
Em Deuteronômio (5.12-15) é ordenada a observância do Shabat como lembrança do Êxodo do Egito. “Guardarás o dia de repouso (Shabat) para santificá-lo, conforme ordenou o Eterno, teu Deus. Trabalharás durante seis dias e farás toda a tua obra. O sétimo dia, porém, é o repouso do Eterno teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu escravo, nem tua escrava, nem teu boi, nem teu jumento, nem qualquer dos teus animais, nem o estrangeiro que está em tuas portas. (...) Recorda que foste escravo na terra do Egito e que o Eterno teu Deus te fez sair de lá com mão forte e braço estendido. É por isso que o Eterno teu Deus te ordenou guardar o dia de repouso.”
O Shabat é, assim, uma celebração da liberdade.
No Livro do Êxodo (20:8-12) aparece uma outra motivação para o preceito da observância do Shabat: “Lembra-te do dia de repouso para santificá-lo. Trabalharás durante seis dias e farás toda a tua obra. O sétimo dia, porém, é o repouso para o Eterno teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu escravo, nem tua escrava, nem teu animal, nem o estrangeiro que está em tuas portas. Porque em seis dias o Eterno fez o céu, a terra, o mar e tudo o que eles contêm, mas repousou no sétimo dia; por isso o Eterno abençoou o dia de repouso e o santificou”.
Este versículo sustenta a idéia de que a cada vez que um judeu santifica o Shabat, ele recorda o ato da Criação. O Shabat é, portanto, uma afirmação da Criação Divina. Neste dia interrompemos o trabalho, pois assim fez o Criador.
O Shabat expressa também o pacto entre o Criador e o povo de Israel, como aparece no versículo Êxodo 31:17: “Será um sinal perpétuo entre Mim e os filhos de Israel, porque em seis dias o Eterno fez os céus e a terra e no sétimo dia descansou e tomou alento”.
As fontes definiram acertadamente a completa mudança que se opera no judeu com a santificação do Shabat ao afirmar: “Ao cair da noite, na véspera do Shabat, a “alma elevada” aloja-se no judeu”. Mas a “alma elevada” não vem em qualquer circunstância. O judeu deve criar um espaço para ela no seu interior, desviando o pensamento dos assuntos da semana e deixando de lado tudo o que for referente às coisas materiais e ao sustento. No vazio deixado pela ausência das ocupações cotidianas, a “alma elevada” penetrará.
O papel da mesa de Shabat, com as velas acesas e o vinho para santificação, não é apenas ritual. Proporciona o marco familiar para uma vivência espiritual de que todos participam.
Atualmente o homem se encontra em uma corrida constante para se superar, demonstrar seu valor e alcançar lucros materiais. Dentro dessa frustrante realidade, o Shabat, com seu ciclo constante, detém o homem em sua corrida e o convida a ser diferente, a fazer uma pausa em suas ocupações cotidianas e dedicar-se às coisas espirituais.
Os principais símbolos que fazem parte do Shabat são:



Toalha branca – Mapá levaná:

Há duas explicações principais para a utilização da toalha branca na mesa do Shabat. Primeiro, em lembrança do maná, o alimento milagroso que caía dos céus e formava uma camada branca sobre a superfície do deserto, conforme relato no Livro do Êxodo. Segundo, porque a mesa do Tabernáculo, onde eram colocadas as Chalot (os pães), é descrita como “a mesa pura diante de Deus.” (Levítico 24:6). A cor branca é símbolo de pureza.



Músicas de Shabat:

São salmos e poemas entoados para santificar ou enaltecer o Shabat. Exemplos: Lechá Dodi (Venha meu amado, saiamos ao encontro da noiva, vamos dar as boas-vindas ao Shabat); e Shalom Aleichem (paz para vós).

Velas - Nerot

Os rabinos ordenaram que se acendessem velas antes do início do Shabat, pois recebendo nossos dias santos com luminosidade e calor, ressaltamos seu caráter festivo.
Devemos acender no mínimo duas velas, representando simbolicamente as duas expressões do Quarto Mandamento: “Zachor et iom hashabat le kadsho”, “Lembrem o dia do Shabat para santificá-lo” (Êxodo 20:8); e “Shamor et iom hashabat le kadsho”, “Guardem o dia do Shabat para santificá-lo.” (Deuteronômio 5:12).
Em alguns lares judaicos, acendem-se três ou mais velas, uma para cada membro da família. Quando está presente algum convidado pode-se colocar uma vela a mais para ele acender, entretanto não é obrigatório.
O importante é que haja luz de Shabat. Essa luz, entretanto, não dever ser destinada para iluminar o ambiente, mas sim representar a criação do mundo, já que antes desta havia o caos, um mundo sombrio.
A Torá proíbe explicitamente o ato de produzir fogo durante o Shabat: “Não acendereis fogo em todas as vossas habitações, no dia de Sábado.” (Êxodo 35:3).
Interpretando essa lei ao pé da letra, algumas seitas judaicas antigas proibiram não só a criação do fogo, mas também sua utilização – nenhum calor, nenhuma luz, nenhum alimento quente no Shabat. O judaísmo liberal admite o acendimento das velas mesmo depois do pôr do sol, pois obedece à orientação segunda a qual o mais importante é cumprir a mitsvá. Este mesmo princípio rege o direito de dirigir para ir à sinagoga ou usar o elevador.
Normalmente, toda bênção deve ser recitada imediatamente antes do cumprimento da respectiva mitsvá, para que não se pronuncie o nome de Deus em vão. No caso das velas, não se pode seguir este princípio porque, no momento em que é recitada a bênção, inicia-se o Shabat, ficando a partir desse instante proibido o acendimento do fogo.
Para superar este dilema, acende-se primeiro as velas e, em seguida, fecha-se ou tampa-se os olhos e recita-se a bênção. Assim, somente depois de abençoar Aquele que ordenou a luz do Shabat é que se pode desfrutar a alegria de vê-las brilhando.
A bênção recitada após o acendimento das velas é: Baruch Atá Adonái, Eloheinu melech haolam, asher kidshanu bemitsvotav vetsivanu lehadlik ner shel Shabat; Louvado sejas, ó Eterno nosso Deus, Fundamento do universo, que com os Teus mandamentos nos santificaste, e nos ordenaste acender as luzes do Shabat.



Kidush:

A palavra “kidush” significa “santificação”. No contexto do Shabat e de outros dias festivos, refere-se a uma bênção especial recitada sobre o vinho.
O Quarto Mandamento nos ordena “lembrar o Shabat, para santificá-lo”. E como santificamos o Shabat? Recordando os dois eventos com os quais a observância do Shabat está relacionada na Torá: a Criação do mundo e o Êxodo do Egito.
A bênção é recitada no lar antes das refeições festivas. É também cantada na sinagoga, para que os forasteiros que estejam passando o Shabat ou o feriado longe de seus lares tenham a oportunidade de escutá-la.
O vinho, como símbolo de vida e alegria, é o elemento mais apropriado para a santificação do Shabat. Entretanto, por uma questão de sensibilidade para com aqueles que não podiam se dar ao luxo de comprar vinho, os rabinos declararam que o Kidush também pode ser recitado sobre as chalot, os pães de Shabat.
A bênção recitada sobre o vinho é: Baruch atá Adonái Eloheinu melech haolam, borê peri hagáfen. Louvado sejas, ó Eterno nosso Deus, Fundamento do Universo, Criador do fruto da videira. Em seguida pronuncia-se o kidush de santificação do dia: Baruch atá Adonai Eloheinu melech haolam, asher kidshánu bemitsvotav veratsá vánu, veshabat koshó beahavá uveratson hinchilánu zikaron lemaasse bereshit, ki hu iom techila lemikraei kodesh zecher litsiat mitsraim, ki vanu vacharta veotanu kidashta mikol haamin, veshabat kodshecha beahavá uvratson hinchaltanu. Baruch atá Adonai, mekadesh hashabat. Louvado sejas, ó Eterno nosso Deus, Fundamento do universo, que com os Teus mandamentos nos santificaste. Com o Teu amor e a Tua bondade concedeste-nos o Shabat e a sua santidade, em memória da obra da Tua criação. Primeira entre as nossas festas, recorda-nos a libertação do Egito. Porque nos elegeste dentre os povos e nos santificaste, concedeste-nos com amor, o repouso sabático. Louvado sejas, ó Eterno, que santificas o Shabat.


Chalot:

As duas chalot representam as duas fileiras de pães dispostas permanentemente na mesa do Tabernáculo. Eram substituídos por pães frescos todo Shabat, e aqueles retirados eram consumidos pelos sacerdotes no próprio santuário.
Outra explicação diz que durante os quarenta anos no deserto, após a saída do Egito, o povo judeu foi sustentado milagrosamente por meio de maná, um alimento que caía diariamente dos céus, numa quantidade suficiente para um dia. Às sextas-feiras, caía uma porção dupla de maná, para evitar que os israelitas tivessem que violar a lei, recolhendo o alimento no dia do descanso. Em lembrança desta porção dupla de maná colocamos duas chalot na mesa de Shabat.
O costume de salpicar sementes de papoula ou gergelim sobre as chalot provém do orvalho que sempre caía sobre o maná para preservá-lo.
Na mesa de Shabat, as velas estão colocadas em candelabros e o vinho está dentro de uma taça. Enquanto as bênçãos sobre as velas e o vinho estão sendo recitadas, as chalot estão “abandonadas” sobre a mesa. Os rabinos decretaram então que, a fim de evitar que as chalot se sintam “humilhadas”, elas devem permanecer cobertas até a hora em que se recita a bênção sobre o pão. Preocupando-nos com a dignidade dos objetos inanimados, aprendemos também a preocupar-nos com a dignidade do nosso semelhante.
O sal acompanhava todos os sacrifícios levados ao altar do antigo Templo. Comendo pão com sal revivemos, simbolicamente, o passado e reforçamos o conceito judaico de que “a mesa é como um altar.” (Talmud Brachot 55a ).
Há uma outra interpretação que diz que o sal, por sua própria natureza, é uma substância que preserva os alimentos e não os deixa deteriorar. O uso do sal na chalá de Shabat representa, assim, nosso desejo de preservar a Aliança entre o Todo-Poderoso e o Povo de Israel.
A bênção que deve ser recitada antes de comer o pão é: Baruch atá Adonái, Eloheinu melech haolam, hamotsi lechem min haarets. Louvado sejas, ó Eterno, nosso Deus, Fundamento do Universo, que fazes pão brotar da terra.



Havdalá:

O Shabat termina depois do serviço da tarde, Maariv, com a cerimônia de Havdalá, ou separação. A cerimônia se repete no lar, quando o chefe da família acende uma vela, enche uma taça com vinho e entoa a reza. Neste momento, cheira-se as especiarias ou ervas aromáticas (para iniciar a semana com um sabor perfumado) e recitamos a brachá Baruch atá Adonai, Eloheinu melech haolam, borê minei bessamim..